terça-feira, 23 de agosto de 2011

Pastoral da Juventude e a Teologia da Libertação


"Não somos revolucionários, somos a própria revolução".




A Pastoral da Juventude nasceu de um longo processo vivido na Igreja do Brasil, antes e durante a passagem das décadas de 1960-1970.
A década de 1960 viu a concepção e a gravidez da práxis e da idéia de libertação se espalhar por toda a América Latina, fortalecida em 1968, com a Conferência de Medellín e depois, na década de 1970 o marco do nascedouro da Teologia da Libertação que encarnou-se no nível popular, no meio de gente oprimida pelos mais fortes do sistema capitalista.

Mas de quem somos herdeiros e herdeiras?

Da Primeira e da Segunda Aliança, do testemunho dos Mártires da Caminhada, do Concílio Vaticano II (1962 - 1965), de Medellín (1968) e de Puebla (1979).
Vivíamos no Brasil, de 1964 - 1985, na Ditadura Militar, em que toda e qualquer manifestação cultural, social e política estava amordaçada, a única voz a ser ouvida era a da Igreja Católica, liderada pela CNBB. A profecia estava de volta, e a certeza do Martírio mais próxima.
Antes, com a Ação Católica, veio o método tão usado pelas Ceb´s: VER, JULGAR, AGIR... Hoje acrescido de mais duas etapas fundantes: REVER E CELEBRAR. Vieram as propostas práticas de fé e de vida com a JAC, JEC, JIC, JOC e JUC... nas palavras do cardeal Cardjin: "Não somos revolucionários, somos a própria revolução"...a juventude começa a dar um rosto à Igreja tão distante dela, dos operários, das mulheres, dos negros, dos indígenas...

O mundo caminhava para a modernidade, sendo que a própria modernidade já caminhava para a pós-modernidade. ..a Igreja há muito tempo não acompanhava os passos da História. Mas nem tudo estava perdido:
Se testemunhava o sopro do Espírito Santo nos papas João XXIII e Paulo VI, que com coragem, sabedoria, humildade e fraternidade fizeram acontecer o Concílio Ecumênico Vaticano II, um marco na história da Igreja. Finalmente a Igreja se abria para o mundo moderno.

Infelizmente ou felizmente, toda abertura acarreta riscos à caminhada. Houveram excessos, tanto do lado mais conservador como do lado mais progressista da Igreja. Mas a mudança sonhada seria irreversível para o bem da caminhada pastoral, teologal e eclesiológica da Igreja Católica no mundo, na América Latina e no Brasil.

O Pacto das Catacumbas foi um dos momentos extra-Concílio de maior beleza e força espiritual, onde alguns bispos, depois padres e leigos assumiram caminhar de verdade como o povo, no meio do povo, à serviço do povo, abrindo mão de todo e qualquer privilégio que a Instituição poderia dar até o final de seus dias, sinal de despojamento e renúncia em favor do povo de Deus, povo que na Nossa América, institucionalmente é pobre, marginalizado, discriminado e excluído.

Com o sopro do Espírito, o Concílio aproximou a Igreja de seu rebanho. A mensagem do Evangelho passou a ser proclamada na língua pátria. A Encarnação do Verbo estava garantida de fato para todos e todas, pois cada um compreendia o que estava sendo dito.

Como em todo o processo, há os que defendem e há os contrários... Muitos abandonaram o barco da Igreja, pois não conseguiam se desfazer das pesadas armaduras da Idade Média e do Concílio de Trento, não conseguiam perceber que o Evangelho é hodierno, portanto, a continuadora de sua mensagem, a Igreja, também deveria ser.

Muitos foram os erros de interpretação, mas houveram acertos e de uma coisa ninguém pode duvidar: João XXIII, Paulo VI, haviam colocado a Igreja Católica de volta no mundo, de volta na História da Humanidade.
A Pastoral da Juventude e a Teologia da Libertação segue os passos do Mestre de Nazaré, divinamente humano, humanamente divino; bebe da mística e da espiritualidade brotada de sua prática e de sua pedagogia cotidiana junto aos mais desfavorecidos.

A simbologia na PJ: de sua bandeira vermelha e do círculo que envolve a sua sigla está no fato de que com o sangue dos Mártires não se deve brincar e que o círculo nos lembra sempre, que todos, todas, são iguais e que todos devem se amar uns aos outros como Ele nos amou.

É ignorância, é estupidez, querer afirmar que a Pastoral da Juventude é um reduto comunista ou uma tendência do Partido dos Trabalhadores, que ela não reza, não ora, que está contra o Magistério e a Hierarquia da Igreja. Enquanto Pastoral social, atuando no mundo não está de forma alguma com os pés fora da Igreja. O seu campo de atuação se dá justamente de dentro para fora da Igreja. A vocação da Pastoral da Juventude é com a juventude que não está somente nas equipes e nos ministérios, mas principalmente com as juventudes que não estão em nenhuma equipe, em nenhum ministério, em nenhum reduto religioso. É uma vocação para o pluralismo religioso.

A Teologia da Libertação tem sido uma teologia moldada segundo o método VER, JULGAR, AGIR, REVER e CELEBRAR. Sabe-se que a filosofia marxista ofereceu diversos elementos à mesma, entretanto a Teologia da Libertação rejeita o pressuposto radical do materialismo da teoria do conhecimento marxista, explicitando a relação entre as interpretações da fé e a prática da caridade - teoria e prática - estabelecendo entre elas uma relação dialética .

Tudo o que foi e está sendo escrito e dito contra a Teologia da Libertação nas décadas seguintes e atualmente, apenas comprova o medo de se caminhar e de experimentar uma teologia feita a partir do chão da vida humana, onde Deus desce e habita no meio do seu povo.




Emerson Sbardelotti
Estudante do Curso Superior de Teologia
Instituto de Filosofia e Teologia da Arquidiocese de Vitória do Espírito Santo
Coordenador do Instituto Capixaba de Juventude do Estado do Espírito Santo - ICJ -ES
Autor/Fonte: PJ Nacional



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